segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Rosário





"Neste painel vemos o Menino Jesus e Nossa Senhora entregando o Rosário (Terço) a S. Domingos e a Santa Catarina de Sena. Com isso se quer significar, em primeiro lugar, que esta oração não é resultado de uam elaboração meramente humana mas que é de inspiração Divina e, em segundo lugar, o facto de ter sido a Ordem Dominicana a acolher e a disseminar esta devoção. Em seguida trancrevem-se pequenas citações do P. António Vieira, S. J., sobre esta oração. São trinta os sermões que ele compôs sobr o Rosário. As citações que aqui se transcrevem são do primeiro e do terceiro sermão. Apesar do português antigo e da pontuação diferente da actual vale a pena ler até ao fim." Frei Nuno Allen


"E que fundamento tiveram estes grandes Doutores (S. João Crisóstomo e S. Gregório Nisseno), a quem segue S. Tomás, e todos os teólogos, para definir a oração com o nome de colóquio, de conversação, e prática com Deus? O fundamento que ambos tiveram, foi porque o colóquio, a prática, e a conversação, não só é falar, senão falar e ouvir: é dizer de uma parte, e responder da outra: e nesta comunicação recíproca consiste a essência e a excelência da perfeita oração. Na oração menos perfeita fala o homem com Deus, na perfeita e perfeitíssima fala o homem com Deus, e Deus com o homem. E isto é o que reciprocamente exercita o Rosário, como oração perfeitíssima, nas duas partes de que é composto. O Rosário compõe-se de oração vocal, e mental.; vocal nas orações que reza, mental nos mistérios que medita: enquanto rezamos, falamos com Deus; enquanto meditamos, fala Deus connosco. O nosso rezar são vozes, o nosso meditar é silêncio: mas neste silêncio ouvimos melhor do que somos ouvidos nas vozes; porque nas vozes ouve-nos Deus a nós, no silêncio ouvimos nós a Deus. ... A primeira voz do Rosário é: Pai nosso, que estais nos Céus ... " (Sermão primeiro - com o Santíssimo Sacramento exposto)

"Quanta é a diferença que tem - posto que estejam tão juntos - na rosa, o cheiro e a virtude: na árvore, a folha e o fruto: no mar, a concha e a pérola: no céu, a aurora e o dia: no homem, o corpo e a alma: e para que digamos nos seus próprios termos; quanta é a vantagem que faz o entendimento à voz, tanta é a que tem - posto que irmãs entre si - a oração mental sobre a vocal. A vocal é o exterior da oração, a mental o interior: a vocal é a parte sensível, a mental a que não se sente: a vocal é um corpo formado no ar, a mental o espírito que o enforma, e lhe dá vida. A vocal recita preces, a mental contempla mistérios: a vocal fala, a mental medita: a vocal lê, a mental imprime: a vocal pede, a mental convence. A vocal pode ser forçada, a mental sempre é voluntária: a vocal pode não sair do coração, a mental entra nele, e o penetra; e se é duro, o abranda. A vocal exercita a memória, a mental discorre com o entendimento, e move a vontade: a vocal caminha pela estrada aberta, a mental cava no campo, e não só cultiva a terra, mas descobre tesouros. ...

(A oração do Rosário) Enquanto vocal, é maior no número, enquanto mental, no peso: enquanto vocal, reza muitas vezes duas orações (Pai-nosso e Ave Maria); enquanto mental, contempla e medita quinze mistérios (actualmente, por iniciativa de João Paulo II que acrescentou 5 mistérios da vida de Cristo, são 20): enquanto vocal, fala e solicita o cuidado de Cristo com Marta, enquanto mental está sem nenhum outro cuidado aos pés de Cristo, e ouve com Maria." (Sermão terceiro - com o Santíssimo Sacramento exposto)