"Aconteceu uma vez, em terras de Itália, os hereges convidarem a Santo António para comer. E o Santo, a ver se os podia tirar do erro, aceitou o convite, a exemplo de Jesus Cristo que por essa mesma razão comia com publicanos e pecadores.
E porque sempre engendra maldades a consciência perversa, aqueles hereges a quem Santo António amiúde confundia nas disputas e sermões, à mesa puseram-lhe diante manjar de morte e venenoso. A qual perfídia logo o Espírito Santo revelou a Santo António.
E como ele com piedosas e pacíficas admoestações os repreendesse da maldade que haviam tramado, os hereges, mentindo, a remedar o demónio pai da mentira, responderam que não para outra coisa assim haviam feito senão para provarem com a experiência a verdade do Evangelho que diz: ', E, pois assim era, comesse ele do manjar que fora servido. Caso não lhe fizesse dano, prometiam converter-se para sempre à Fé do Evangelho. Mas se mostrasse medo de comer do manjar, então mais se firmavam na sua crença de que nas palavras do Evangelho se contêm falsidades.
Santo António fez o sinal da Cruz sobre o manjar envenenado, e tomando dele por suas mãos sem nenhum temor, disse:
- Pois vou comer; não para tentar a Deus, mas para que tenhais Fé no Evangelho.
E depois que comeu daquele manjar, ficou são e não sentiu em seu corpo algum incómodo. O que, vendo os hereges, se converteram à Fé católica." Florinhas de Santo António, IV