domingo, 5 de setembro de 2010

S. Francisco de Assis prega aos pássaros e demais criaturas

Este pormenor, de um painel do Arquitecto João Sousa Araújo, mostra-nos S. Francisco pregando aos pássaros. O seu primeiro biógrafo, frei Tomás de Celano narra-nos o acontecimento: "Chegado perto de Bevanha, viu  reunido um bando enorme de aves das mais diversas espécies: pombos bravos, gralhas e fouvos.
Ao vê-las, o bem-aventurado servo de Deus Francisco, homem de grande sensibilidade e singular ternura pela criaturas irracionais e inferiores, correu alegremente para elas, deixando no caminho os companheiros. E estando já perto, vendo que elas o esperavam, saudou-as como era seu costume ("O Senhor vos dê a paz"). Notando com espanto que elas não fugiam, como sempre fazem,, com imenso gozo e humildade lhes pediu se dignassem escutar a Palavra de Deus. Entre outras coisas disse-lhes: 'Avezinhas, minhas irmãs, muito tendes que louvar o vosso Criador e amá-l' O de contínuo, já que vos deu penas para vos cobrir, asa para voar e tudo o mais de que haveis mister. Fez-vos nobres entre as demais criaturas e deu-vos por morada a limpidez do espaço. Não semeais nem colheis e, apesar disso, Ele vos protege e guia, libertando-vos de preocupações'. Ao ouvirem estas palavras, as avezinhas - segundo ele próprio contava, assim como os irmãos que estiveram presentes - manifestavam a sua alegria conforme podiam: alongando o pescoço, espanando as asas, abrindo o bico e olhando para ele. E ele, passando pelo meio delas, ia e vinha, roçando com a sua túnica em suas cabecitas e corpos. Por fim, abençoou-as e, feito o sinal da cruz, deu-lhes licença para seguirem à sua vida, indo também ele à sua, com os companheiros, cheio de alegria e louvando o Senhor, a quem todas as criaturas veneram com tão devotas manifestações.
Como era homem simples, não por natureza mas pela graça, grandemente se lastimava de haver sido tão negligente, pois tendo os pássaros escutado com tanta devoção a divina palavra, ainda lhes não tinha pregado até esse momento. Desse dia em diante começou ele a exortar todas as aves, todos os animais, todos os répteis, e até as criaturas inanimadas, a louvarem e a amarem o Criador, já que, por experiência própria, comprovava como lhe obedeciam quando invocava o nome do Senhor ...
Que arrebatamento o seu quando admirava a beleza das flores ou lhe aspirava o delicado perfume! Imediatamente se reportava à contemplação dessa Flor primaveril (Jesus), radiosamente nascida do tronco de Jessé, e que, mercê da sua fragrância, restituíra a vida a milhares de mortos. Quando encontrava muitas flores juntas, pregava-lhes e convidava-as a louvarem o seu Senhor, como se fossem dotadas de razão. O mesmo fazia diante dos trigais e dos vinhedos, dos rochedos e das florestas, das belas paisagens ridentes, das fontes, dos jardins, da terra e do fogo, do ar e do vento, convidando-os com simplicidade e pureza de alma a amarem e a louvarem o Senhor. A todos os seres chamava irmãos. Com penetrante intuição lograva descobrir de uma maneira maravilhosa e de todos desconhecida o mistério das criaturas, pois gozava já da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Agora que ele está nos Céus, com os Anjos te louva, ó bom Jesus - ele, que na terra proclamava diante de todas as criaturas, que só Tu és digno de amor infinito." (Frei Tomás de Celano - Vida Primeira, nn. 58 e 81)